Gramer: Gramática sem Equivalência na Tradução Inglês-Russo: Análise e Estratégias

No complexo e multifacetado universo da tradução, onde não apenas palavras, mas também culturas, mentalidades e visões de mundo se entrelaçam, a ausência de equivalentes gramaticais diretos entre o inglês e o russo emerge como um dos desafios mais proeminentes. Esta lacuna não é um mero obstáculo técnico; ela representa um ponto central para a compreensão profunda do processo de transferência de significado, exigindo do tradutor não só o domínio de ambos os idiomas, mas também uma aguda sensibilidade para as suas idiossincrasias estruturais e culturais.

A relevância desta investigação para estudantes de linguística e tradutores em atividade é inegável. Para os futuros especialistas, o estudo da não-equivalência gramatical é fundamental para a formação de uma base teórica sólida e para o desenvolvimento de habilidades práticas essenciais. Compreender as diferenças intrínsecas entre as gramáticas do inglês e do russo, e dominar as estratégias para superá-las, é a chave para produzir traduções não apenas gramaticalmente corretas, mas também estilisticamente adequadas e semanticamente precisas. Para os tradutores experientes, aprofundar-se nesta problemática oferece a oportunidade de refinar suas técnicas, identificar padrões de erro recorrentes e explorar abordagens inovadoras para a resolução de problemas complexos.

Além disso, a análise detalhada de categorias gramaticais específicas, como artigos, gerúndios, formas verbais de tempo e aspecto, e sufixos diminutivos, permite uma compreensão mais granular das transformações necessárias. O impacto da não-equivalência gramatical na adequação e equivalência da tradução, especialmente em textos especializados, onde a precisão é crucial, não pode ser subestimado. Erros decorrentes desta lacuna podem ter consequências sérias, desde a distorção de informações científicas até falhas em manuais técnicos, colocando em risco a segurança e a eficácia de produtos e serviços.

A presente dissertação de curso visa proporcionar uma análise abrangente e aprofundada das transformações que surgem devido à ausência de equivalentes gramaticais diretos entre o inglês e o russo. Começaremos por estabelecer os fundamentos teóricos da equivalência e das transformações na tradução, seguindo com uma análise comparativa das categorias gramaticais não-equivalentes. Em seguida, exploraremos as estratégias de tradução para cada uma dessas categorias, discutiremos os riscos de erros e suas implicações, e, por fim, ofereceremos recomendações práticas para tradutores. O objetivo é fornecer um guia completo que auxilie na superação dos desafios impostos pela gramática não-equivalente, contribuindo para a produção de traduções de alta qualidade.

Fundamentos Teóricos da Equivalência e Transformações na Tradução

No cerne da tradutologia moderna jaz a ideia de que a tradução, longe de ser uma mera transcodificação palavra por palavra, é um ato complexo de recriação e reinterpretação. Este processo, onde diferentes sistemas linguísticos se encontram e se adaptam, exige um profundo entendimento das noções de equivalência e transformação. São essas ferramentas conceituais que permitem aos tradutores atravessar as pontes entre línguas, mantendo a integridade da mensagem original, mesmo diante da ausência de correspondências diretas.

Conceito e níveis de equivalência na tradução

A essência da tradução reside na busca pela equivalência – a maior correspondência possível entre o texto de partida (TP) e o texto de chegada (TC), reconhecendo a impossibilidade de uma identidade absoluta. Este conceito, introduzido no final da década de 1950, tornou-se um dos pilares da teoria da tradução, influenciando tanto a pesquisa acadêmica quanto a prática profissional. A equivalência não se limita à correspondência literal de unidades linguísticas, mas abrange a transmissão do sentido, da função comunicativa e do impacto estilístico do original.

Para desvendar as complexidades da equivalência, V.N. Komissarov propôs um modelo hierárquico de cinco níveis, que oferece uma estrutura robusta para analisar como diferentes graus de correspondência são alcançados. Esta taxonomia é fundamental para compreender as estratégias que o tradutor emprega para lidar com a não-equivalência gramatical e outros desafios.

Nível de equivalência Característica Exemplos
Nível da finalidade da comunicação (ou objetivo comunicativo) Este é o nível mais abstrato e flexível da equivalência. Aqui, o tradutor foca na manutenção do objetivo principal do texto original, permitindo adaptações significativas na forma e no conteúdo para garantir que o TC provoque a mesma reação ou cumpra o mesmo propósito que o TP no público-alvo. Uma piada ou um jogo de palavras que não tem equivalente direto pode ser substituído por outro que produza o mesmo efeito humorístico.
Nível da descrição da situação Neste nível, o foco está na transmissão da mesma situação ou realidade extralinguística que é descrita no TP. Embora a forma de descrever essa situação possa variar drasticamente entre as línguas, o tradutor assegura que o leitor do TC compreenda a mesma realidade. A tradução de uma frase como "It’s raining cats and dogs" (chuva forte) para "Chope forte" ou "Está chovendo a cântaros", onde a imagem literal muda, mas a situação de chuva intensa é preservada.
Nível da forma de descrever a situação Aqui, além de manter a situação, o tradutor busca preservar o método pelo qual essa situação é apresentada. Isso envolve a manutenção de elementos como o tipo de frase (afirmativa, interrogativa), a ordem dos elementos, ou a escolha de certas classes de palavras, sempre que possível sem comprometer a naturalidade do TC. Se o TP usa uma metáfora específica, o tradutor tentará encontrar uma metáfora equivalente no TC, em vez de uma descrição literal.
Nível da estrutura do enunciado (ou sintático) Este nível exige uma correspondência mais próxima na estrutura sintática das frases. O tradutor tenta manter a mesma organização da frase, a mesma relação entre as partes da oração. No entanto, devido às diferenças tipológicas entre as línguas (por exemplo, ordem fixa de palavras no inglês vs. ordem mais flexível no russo), este nível de equivalência muitas vezes exige transformações gramaticais. A voz passiva em inglês pode ser traduzida para a voz ativa em russo se isso soar mais natural.
Nível da correspondência léxico-semântica (ou lexical e morfológica) Este é o nível mais baixo e mais concreto da equivalência, onde o tradutor busca a correspondência direta de unidades léxicas e morfológicas. É o ideal da "tradução literal", onde cada palavra ou morfema do TP tem um equivalente direto no TC. Embora seja o nível de maior fidelidade formal, é também o menos frequentemente alcançável na prática, especialmente em pares de línguas com grandes diferenças tipológicas. A tradução de termos técnicos ou nomes próprios se encaixa bem neste nível.

O modelo de Komissarov ilustra que a equivalência na tradução é um espectro, e não um ponto fixo. O tradutor, como um maestro, orquestra essas diferentes camadas, decidindo qual nível de equivalência é prioritário em cada segmento do texto, sempre com o objetivo de produzir um TC que seja funcional e comunicativamente eficaz.

Essência e classificação das transformações na tradução

Se a equivalência é o objetivo, as transformações são os meios pelos quais esse objetivo é alcançado. O renomado tradutólogo L.S. Barkhudarov define as transformações de tradução como «numerosas e qualitativamente diversas conversões, realizadas para alcançar a equivalência da tradução, apesar das diferenças nos sistemas formais e semânticos dos dois idiomas». Em outras palavras, as transformações são as manobras que o tradutor executa para adaptar o texto de partida às normas e idiossincrasias do texto de chegada.

R.K. Minyar-Beloruchev vai além, afirmando que as transformações são a «essência da profissão do tradutor», concebendo o processo de tradução como uma «conversão interlinguística do texto». Esta perspectiva destaca o papel ativo e criativo do tradutor, que não é um mero decodificador, mas um agente de reestruturação linguística.

A natureza das transformações é intrinsecamente formal e semântica, pois elas atuam sobre unidades linguísticas que possuem tanto um plano de expressão (forma) quanto um plano de conteúdo (significado). Isso significa que uma transformação pode alterar a estrutura gramatical de uma frase, a escolha lexical, ou ambos, sempre com o propósito de preservar o sentido original no novo contexto linguístico e cultural.

As transformações podem ser classificadas de diversas maneiras, mas as mais comuns incluem:

  • Substituições lexicais: Envolvem a substituição de uma palavra ou expressão do TP por uma que tenha um significado equivalente no TC, mas não necessariamente uma correspondência formal. Isso pode incluir a lexicalização de conceitos gramaticais (como a tradução de um artigo por um pronome ou adjetivo).
  • Substituições gramaticais: Alterações na estrutura gramatical. Por exemplo, a substituição de uma parte da oração por outra (verbo por substantivo), a mudança da voz verbal (ativa para passiva e vice-versa), ou a alteração do tipo de frase.
  • Transposições: Mudança na ordem das palavras ou frases dentro de uma oração, ou a mudança da parte da oração (e.g., adjetivo por advérbio).
  • Adições: Inserção de informações que não estão explicitamente presentes no TP, mas que são necessárias para a clareza ou a correção gramatical no TC. Isso é comum quando se lida com categorias sem equivalentes diretos (como a tradução de um artigo).
  • Omisões: Exclusão de elementos do TP que são redundantes ou desnecessários no TC, ou que não podem ser traduzidos de forma natural sem distorcer o sentido ou o estilo.
  • Modulações: Mudança na perspectiva ou no foco da mensagem, expressando a mesma ideia de uma maneira diferente. Por exemplo, traduzir «It’s not difficult» por «É fácil».
  • Compensação: A técnica de compensar uma perda de sentido, estilo ou efeito em uma parte do texto de partida, introduzindo um elemento equivalente em outra parte do texto de chegada. Esta é particularmente relevante para lidar com categorias culturais ou gramaticais sem equivalente direto.

Ao aplicar essas transformações, o tradutor atua como um verdadeiro arquiteto linguístico, reconstruindo a mensagem original de forma a garantir sua funcionalidade e impacto no novo contexto. A maestria na aplicação dessas técnicas é o que distingue uma tradução competente de uma tradução medíocre, especialmente quando se enfrenta a intrincada teia da não-equivalência gramatical.

Categorias Gramaticais Não-Equivalentes em Inglês e Russo: Uma Análise Comparativa

A complexidade da tradução entre o inglês e o russo é magnificada pelas profundas diferenças em suas estruturas gramaticais. Como um explorador em um terreno desconhecido, o tradutor frequentemente se depara com categorias em um idioma que simplesmente não possuem um correspondente direto no outro. Essa assimetria, longe de ser um mero capricho linguístico, é um reflexo das distintas formas como cada cultura conceitua e organiza a realidade. Compreender essas lacunas gramaticais é o primeiro passo crucial para desenvolver estratégias de tradução eficazes, pois é precisamente nesses pontos de divergência que surgem as necessidades mais prementes de transformação.

O artigo como categoria não-equivalente no inglês

Uma das distinções gramaticais mais marcantes entre o inglês e o russo reside na categoria do artigo. Enquanto o inglês utiliza artigos (definido «the» e indefinido «a/an») para expressar definitude, indefinitude e generalização, o russo simplesmente não possui essa categoria gramatical.

O artigo em inglês funciona como um marcador essencial que fornece informações sobre a referência do substantivo. O artigo definido «the» indica que o objeto ou conceito é conhecido tanto pelo falante quanto pelo ouvinte, ou que já foi mencionado anteriormente. Por exemplo, «I saw *the* dog» implica que ambos sabem de qual cachorro se trata. O artigo indefinido «a/an», por sua vez, introduz um objeto ou conceito pela primeira vez, ou se refere a um membro não específico de uma classe. «I saw *a* dog» sugere que o cachorro é desconhecido ou não foi especificado.

A ausência do artigo no russo não significa que a língua seja incapaz de expressar essas nuances de definitude ou indefinitude. Em vez disso, o russo emprega outros meios gramaticais e lexicais para transmitir informações semelhantes, como a ordem das palavras, o uso de pronomes demonstrativos, adjetivos ou até mesmo o contexto da frase. Por exemplo, a frase em russo «Я видел собаку» pode significar tanto «I saw *a* dog» quanto «I saw *the* dog», dependendo do contexto e da entonação. Se a ênfase é no fato de ter visto *algum* cachorro, a palavra «собаку» pode vir no final. Se a ênfase é no fato de ter visto *o* cachorro específico, a palavra «собаку» pode vir no início ou acompanhada de um pronome como «эту» (esta).

A tabela a seguir ilustra as principais funções dos artigos em inglês e as maneiras como o russo as compensa:

Função do Artigo em Inglês Exemplo em Inglês Equivalente em Russo (e compensação)
Definitude (conhecido) The sun is shining. Солнце светит. (conhecimento geral)
Indefinitude (novo/não específico) I need a pen. Мне нужна ручка. (contexto/entonação)
Generalização (classe) A dog is loyal. Собака верна. (uso do substantivo nu)

A tradução de artigos, portanto, não é uma questão de encontrar um equivalente direto, mas de compreender a informação que o artigo veicula e decidir como essa informação pode ser transmitida de forma natural e precisa no russo, utilizando as ferramentas gramaticais e lexicais disponíveis.

O Gerúndio: uma forma única do verbo inglês

Outra categoria gramatical que representa um desafio significativo na tradução é o gerúndio. O gerúndio é uma forma não-finita do verbo em inglês que termina em «-ing» e combina características de um verbo e de um substantivo. Ele pode funcionar como substantivo (sujeito, objeto, complemento), mas ao mesmo tempo pode ter um objeto ou ser modificado por um advérbio, características típicas de um verbo. Por exemplo, em «I enjoy *reading* books», «reading» é um gerúndio que atua como objeto direto e ainda assim «books» é seu objeto.

O russo não possui uma forma gramatical análoga ao gerúndio. Suas funções são distribuídas entre diversas categorias gramaticais, o que exige do tradutor uma série de transformações para capturar o sentido original. As funções do gerúndio em inglês podem ser transmitidas em russo por:

  • Substantivos: «Smoking is prohibited» → «Курение запрещено» (O fumo é proibido).
  • Substantivos derivados de verbos: «His *coming* surprised us» → «Его *приход* удивил нас» (A sua vinda nos surpreendeu).
  • Substantivos com preposições: «Thank you for *coming*» → «Спасибо за *приход*» (Obrigado pela vinda).
  • Infinitivos: «I like *swimming*» → «Я люблю *плавать*» (Eu gosto de nadar).
  • Particípios adverbiais (деепричастия): «He left *without saying goodbye*» → «Он ушёл, *не попрощавшись*» (Ele saiu sem se despedir). Este uso é comum para expressar circunstâncias de tempo ou modo.
  • Adjetivos: Em casos menos frequentes, quando o gerúndio funciona como um atributo.
  • Formas pessoais do verbo em orações subordinadas: «I remember *seeing* him there» → «Я помню, как *видел* его там» (Lembro-me de ter visto ele lá).

A versatilidade do gerúndio em inglês, combinada com a sua ausência no russo, torna a sua tradução um exercício de discernimento contextual e de domínio das diversas opções gramaticais e lexicais do idioma de chegada.

Formas verbais de tempo e aspecto: divergências nos sistemas

As formas verbais de tempo e aspecto representam um dos maiores pontos de divergência entre o inglês e o russo, e uma fonte contínua de dificuldades para os falantes de russo que aprendem inglês, e vice-versa. Enquanto o russo opera com um sistema relativamente simples de três tempos (presente, passado e futuro) e uma categoria de aspecto bem definida (perfeito e imperfeito), o inglês apresenta um sistema complexo com 12 a 16 formas verbais de tempo e aspecto. A gramática clássica inglesa geralmente reconhece 12 formas principais, formadas pela combinação de três tempos (Present, Past, Future) e quatro aspectos (Simple, Continuous, Perfect, Perfect Continuous). Contagens mais elevadas (até 16 ou 24) podem incluir a voz passiva ou construções como «Future in the Past».

Tempo Aspecto Simple Aspecto Continuous Aspecto Perfect Aspecto Perfect Continuous
Presente Present Simple Present Continuous Present Perfect Present Perfect Continuous
Passado Past Simple Past Continuous Past Perfect Past Perfect Continuous
Futuro Future Simple Future Continuous Future Perfect Future Perfect Continuous

Em contraste, o russo possui uma estrutura mais concisa. A categoria de aspecto do verbo, que indica como a ação se desenrola no tempo, é fundamental:

  • Aspecto Perfeito (совершенный вид): Indica uma ação concluída, com um resultado, ou uma ação pontual. Responde à pergunta «что сделать?» (o que fazer?). Ex: «прочитать» (ler, no sentido de concluir a leitura).
  • Aspecto Imperfeito (несовершенный вид): Indica uma ação em andamento, repetida, ou inconclusa. Responde à pergunta «что делать?» (o que fazer?). Ex: «читать» (ler, no sentido de estar lendo ou ler habitualmente).

A ausência da categoria de aspecto no inglês, embora compensada pelas diversas formas de tempo e aspecto, significa que um único verbo russo pode ter dois equivalentes em inglês, dependendo do aspecto. Por exemplo, «читать» (imperfeito) pode ser «to read» (em Present Simple para hábitos), «to be reading» (em Present Continuous para ação em curso), enquanto «прочитать» (perfeito) pode ser «to read» (em Past Simple para ação concluída), «to have read» (em Present Perfect para resultado).

As principais dificuldades na tradução surgem da necessidade de transmitir as nuances de aspecto do inglês para o russo, muitas vezes utilizando o sistema de aspecto russo, e vice-versa. Por exemplo, o Present Perfect inglês, que expressa uma ação iniciada no passado e com relevância no presente, não tem um equivalente direto em russo e requer uma interpretação cuidadosa.

Sufixos diminutivos: um fenômeno cultural-gramatical do russo

A categoria de diminutividade, expressa através de sufixos diminutivos, é um fenômeno linguístico que revela profundas diferenças culturais e gramaticais entre o russo e o inglês. No russo, a produtividade e a significância cultural dos diminutivos são notavelmente altas, permeando a linguagem cotidiana e expressando uma gama complexa de emoções.

No russo, a categoria da diminutividade é uma das dominantes semânticas, manifestando-se em uma frequência muito maior de uso de formas diminutivas em situações cotidianas e sua alta produtividade morfológica. Os sufixos diminutivos russos não apenas indicam um tamanho menor, mas também transmitem uma vasta paleta de emoções: carinho, ternura, afeição, desdém, ironia, pity ou mesmo um tom informal. Por exemplo, de «стол» (mesa) pode-se formar «столик» (mesinha), de «мама» (mãe) – «мамочка» (mamãezinha), de «рука» (mão) – «ручка» (mãozinha/caneta). A escolha do sufixo pode modular o grau e a qualidade da emoção.

Em contraste, os sufixos diminutivos em inglês são menos numerosos e frequentemente empregados em expressões prontas ou para fins específicos. A formação morfológica de diminutivos no inglês é menos produtiva e mais irregular. Exemplos de sufixos diminutivos em inglês incluem:

  • «-y/-ie» (doggy, sweetie, kitty)
  • «-let» (piglet, booklet)
  • «-ling» (duckling, darling)
  • «-ette» (kitchenette)
  • «-kin» (lambkin, napkin)
  • «-ish» (para adjetivos, greenish)
  • «-sie/-sies» (itsy-bitsy)
  • «-n/-en/-on» (kitten, chicken)
  • «-o/-io» (daddio, kiddo)
  • «-s» (pops)

O acréscimo de um sufixo diminutivo em inglês não apenas altera a forma da palavra, mas adiciona uma conotação emocional, expressando um tom brincalhão ou afetuoso, intensificando emoções ou direcionando a conversa. No entanto, a gama de emoções e a complexidade estilística que podem ser transmitidas pelos diminutivos russos (como em «Илюшечка», «Надюшенька», «Митюха») muitas vezes não podem ser adequadamente replicadas em inglês com um único sufixo.

A tradução de diminutivos russos para o inglês, portanto, requer uma compreensão profunda do contexto e da emoção subjacente. Frequentemente, exige o uso de mecanismos compensatórios, como a descrição («little», «dear», «sweet»), ou a adoção de estratégias de transliteração para nomes próprios, reconhecendo que a equivalência total raramente é alcançável. Este é um campo onde a gramática se entrelaça indissociavelmente com a cultura, exigindo do tradutor não apenas habilidades linguísticas, mas também sensibilidade intercultural.

Transformações na Tradução para Categorias Gramaticais Não-Equivalentes (Aspecto Prático)

A ponte entre dois idiomas, especialmente quando suas estruturas gramaticais divergem tão acentuadamente quanto o inglês e o russo, é construída por meio de transformações. Estas não são meras correções, mas sim reconfigurações habilidosas do texto, concebidas para preservar o sentido e o impacto do original, enquanto se adapta às normas e idiossincrasias do idioma-alvo. Neste capítulo, mergulharemos nos aspectos práticos dessas transformações, explorando como os tradutores lidam com as categorias gramaticais sem equivalente direto, utilizando exemplos concretos para ilustrar as estratégias empregadas.

Transformações na tradução de artigos

A ausência de artigos na gramática russa exige que o tradutor atue como um intérprete de nuances, decidindo se e como a informação de definitude ou indefinitude, inerente aos artigos ingleses, deve ser transmitida. As principais transformações gramaticais aqui são a substituição, a adição e a omissão.

  • Substituição: Quando a informação veiculada pelo artigo é crucial, ela pode ser substituída por outras unidades lexicais ou gramaticais em russo.
    • Pronomes demonstrativos: Para enfatizar a definitude, um artigo definido pode ser substituído por pronomes como «этот» (este/essa) ou «тот» (aquele/aquela).
      • Exemplo: «Please pass *the* book.» → «Передай, пожалуйста, *эту* книгу.» (Por favor, passa este livro.)
    • Adjetivos: Para expressar indefinitude ou generalização de forma mais explícita, pode-se adicionar adjetivos como «некоторый» (algum), «какой-то» (algum, algum tipo de).
      • Exemplo: «He needs *a* place to stay.» → «Ему нужно *какое-то* место, чтобы остановиться.» (Ele precisa de algum lugar para ficar.)
  • Adição: Em certos contextos, a ausência de um artigo em russo pode levar à adição de palavras que explicitam o significado que o artigo carregava implicitamente em inglês.
    • Exemplo: «He is *a* teacher.» → «Он *работает* учителем.» (Ele trabalha como professor.) Aqui, a adição do verbo «работать» (trabalhar) ajuda a contextualizar a profissão, uma nuance que o artigo indefinido contribui para expressar em inglês.
  • Omissão: Se o artigo não carrega uma carga semântica ou estilística essencial para a compreensão no contexto russo, ele pode ser omitido. Esta é a transformação mais comum, refletindo a natureza da língua russa.
    • Exemplo: «The cat sat on *the* mat.» → «Кошка сидела на коврике.» (O gato sentou-se no tapete.) A informação de definitude é inferida pelo contexto.

Um caso interessante é quando o artigo indefinido em inglês indica o centro semântico da frase, ou seja, a informação nova e mais importante. Nesses casos, a transmissão dessa ênfase para o russo pode ser alcançada através da alteração da ordem das palavras, que no russo possui uma função sintático-semântica mais flexível que no inglês.

  • Exemplo: «There was *a* man at the door.» (A ênfase está no «man») → «К двери подошёл *человек*.» (À porta aproximou-se um homem.) Ou «У двери стоял *человек*.» (À porta estava um homem.) A palavra «человек» (homem) aparece em uma posição que realça sua novidade ou importância, compensando a função do artigo indefinido.

Estratégias de tradução do gerúndio

A tradução do gerúndio inglês, dada a sua natureza híbrida e a ausência de um equivalente direto em russo, exige uma gama diversificada de transformações gramaticais, principalmente a substituição de uma parte do discurso. A escolha da estratégia depende fundamentalmente da função sintática que o gerúndio exerce na frase.

  1. Quando o gerúndio funciona como sujeito:
    • Substantivo: É a opção mais comum, especialmente para ações abstratas.
      • Exemplo: «*Reading* is important.» → «*Чтение* важно.» (A leitura é importante.)
    • Infinitivo: Usado quando a ação é vista como um potencial ou um propósito.
      • Exemplo: «*Smoking* is bad for your health.» → «*Курить* вредно для здоровья.» (Fumar é prejudicial à saúde.)
  2. Quando o gerúndio funciona como complemento (objeto):
    • Substantivo com preposição: Frequente quando o gerúndio segue uma preposição.
      • Exemplo: «I am good *at drawing*.» → «Я хорошо *рисую*.» (Sou bom *em desenhar*.) Ou «Я хорошо *в рисовании*.» (Sou bom *no desenho*.)
    • Infinitivo: Quando o gerúndio complementa um verbo que expressa preferência, início/fim, ou continuação.
      • Exemplo: «He finished *writing* the letter.» → «Он закончил *писать* письмо.» (Ele terminou *de escrever* a carta.)
    • Substantivo derivado de verbo:
      • Exemplo: «They discussed *solving* the problem.» → «Они обсуждали *решение* проблемы.» (Eles discutiram a *resolução* do problema.)
  3. Quando o gerúndio funciona como advérbio (circunstância):
    • Particípio adverbial (деепричастия): Ideal para expressar uma ação simultânea ou antecedente.
      • Exemplo: «*Having finished* his work, he went home.» → «*Закончив* работу, он пошёл домой.» (Tendo terminado o trabalho, ele foi para casa.)
    • Substantivo com preposição: Para expressar relações de tempo, causa, modo.
      • Exemplo: «*By studying* hard, you will succeed.» → «*Благодаря усердному обучению*, ты добьешься успеха.» (Através do estudo árduo, você alcançará o sucesso.)
    • Orações subordinadas com formas pessoais do verbo:
      • Exemplo: «I remember *seeing* him there.» → «Я помню, *как видел* его там.» (Lembro-me de *ter visto* ele lá.) Ou «Я помню, *что видел* его там.» (Lembro-me *que o vi* lá.)

A variedade de opções de tradução para o gerúndio ressalta a importância de uma análise contextual aprofundada. O tradutor deve não apenas identificar a função gramatical do gerúndio, mas também o matiz semântico que ele confere à frase, para escolher a transformação mais adequada que preserve a equivalência do sentido e do estilo.

Transmissão das formas verbais de tempo e aspecto do inglês

As formas verbais de tempo e aspecto em inglês, com suas doze (ou mais) variações, representam um terreno minado para tradutores, especialmente para aqueles cuja língua materna é o russo, que opera com apenas três tempos e uma forte categoria de aspecto (perfeito/imperfeito). As principais dificuldades surgem da tentativa de uma tradução literal, que frequentemente leva a erros. As «dezesseis» formas verbais inglesas (incluindo as construções básicas e as formas passivas) frequentemente confundem os falantes de russo, que tentam mapeá-las diretamente para seus três tempos verbais. Erros comuns incluem o uso incorreto do Present Perfect com marcadores de tempo passado específico, a confusão entre Present Perfect e Past Simple, e a utilização do Present Simple para descrever ações em curso.

A tradução de formas perfeitas do inglês para o russo é particularmente desafiadora, pois o Present Perfect e o Past Perfect frequentemente expressam anterioridade ou resultado que não tem um equivalente direto no sistema verbal russo.

  1. Present Perfect: Expressa uma ação que começou no passado e continua até o presente, ou uma ação concluída no passado com relevância para o presente.
    • Verbo imperfeito no presente: Para ações contínuas ou repetidas até o presente.
      • Exemplo: «I have *lived* here for ten years.» → «Я *живу* здесь уже десять лет.» (Eu *vivo* aqui há dez anos.)
    • Verbo perfeito no passado: Para ações concluídas com resultado presente.
      • Exemplo: «She has *written* a book.» → «Она *написала* книгу.» (Ela *escreveu* um livro.)
    • Verbo perfeito no futuro: Em contextos onde o Present Perfect tem um sentido prospectivo (por exemplo, após «until», «as soon as»).
      • Exemplo: «I will call you when I have *finished*.» → «Я позвоню тебе, когда *закончу*.» (Eu te ligarei quando *tiver terminado*.)
  2. Past Perfect: Expressa uma ação que ocorreu antes de outro evento no passado.
    • Verbo perfeito no passado: Geralmente, o Past Perfect é traduzido por um verbo perfeito no passado em russo, com a anterioridade sendo indicada pelo contexto ou por marcadores temporais.
      • Exemplo: «He had *left* before I arrived.» → «Он *ушёл* до того, как я пришёл.» (Ele *tinha saído* antes de eu chegar.)

A chave para uma tradução eficaz das formas verbais reside na compreensão do *sentido* da ação (resultado, processo, repetição ou momento no tempo) e não na sua correspondência formal. Marcadores de tempo em inglês (e.g., «already», «yet», «since», «for») são cruciais para determinar a escolha do tempo e aspecto verbal mais adequado em russo.

Mecanismos compensatórios na tradução de sufixos diminutivos

A tradução de substantivos com sufixos diminutivos do russo para o inglês é um dos campos onde a gramática e a cultura se entrelaçam de forma mais evidente. Dada a alta produtividade e a riqueza semântico-emocional dos diminutivos russos e sua contraparte mais limitada em inglês, a equivalência direta é rara. Os tradutores precisam recorrer a mecanismos compensatórios.

Os diminutivos russos podem expressar uma vasta gama de emoções, desde ternura e carinho («мамочка» — mamãezinha) até desdém ou ironia («директорчик» — diretorzinho, no sentido pejorativo). Essa complexidade é difícil de replicar com um único sufixo em inglês.

As estratégias compensatórias incluem:

  1. Tradução descritiva: O método mais comum, onde o tradutor usa palavras ou frases para descrever o matiz emocional ou o tamanho implícito.
    • Uso de adjetivos: «Little», «tiny», «small» para o tamanho; «dear», «sweet», «nice», «cute» para o afeto.
      • Exemplo: «Чашечка» (chávena pequena/querida) → «A *little* cup» ou «A *cute* cup».
      • Exemplo: «Доченька» (filhinha querida) → «My *dear* daughter», «My *sweet* daughter».
    • Uso de advérbios: Para intensificar a emoção.
      • Exemplo: «Кроватка» (caminha) → «A *lovely little* bed».
  2. Uso de palavras emotivamente coloridas: Em inglês, há palavras que carregam uma conotação afetiva semelhante aos diminutivos russos, embora não sejam formadas por sufixação produtiva.
    • Exemplo: Para «ребёночек» (bebê/criança pequena e querida), pode-se usar «baby», «infant», mas o matiz afetivo pode ser adicionado com «darling», «sweetheart».
  3. Transliteração/Transcrições para nomes próprios: Para nomes próprios diminutivos russos, a transliteração é frequentemente usada para manter a autenticidade cultural, embora a conotação diminutiva possa se perder.
    • Exemplo: «Илюшечка» → «Ilyushechka», «Надюшенька» → «Nadyushenka». O tradutor pode adicionar uma nota explicativa se o contexto exigir.
  4. Abreviações ou encurtamentos: Em inglês informal, abreviações ou encurtamentos de nomes podem ter uma função diminutiva, embora não sejam morfológicos no mesmo sentido que no russo.
    • Exemplo: «William» → «Will», «Billy».
  5. Adição de sílabas (gírias): Em gírias, a adição de sílabas pode dar expressividade, mas é um fenômeno limitado e não uma regra geral para diminutivos.

É crucial evitar a tradução literal de diminutivos russos, pois «чашечка» como «cup-let» ou «ложечка» como «spoon-let» soaria artificial, estranho ou até pejorativo para um falante nativo de inglês. A sensibilidade contextual e cultural é a bússola do tradutor neste domínio, garantindo que a emoção e o estilo do original sejam adequadamente transmitidos, mesmo que por meios gramaticais e lexicais distintos.

Impacto da Não-Equivalência Gramatical na Adequação da Tradução e Riscos de Erros

A tradução, em sua essência, é um ato de equilíbrio delicado. Quando as estruturas gramaticais dos idiomas de partida e de chegada não se alinham diretamente, como é o caso entre o inglês e o russo, esse equilíbrio se torna ainda mais precário. A ausência de equivalentes gramaticais diretos não é apenas um desafio técnico; ela pode ter um impacto profundo na adequação semântica e estilística da tradução, introduzindo riscos significativos de erros, especialmente em contextos onde a precisão é primordial.

Distorção de sentido e estilo

A impossibilidade de uma correspondência gramatical «um para um» entre o inglês e o russo obriga o tradutor a recorrer a diversas técnicas de compensação e transformações. Esse processo, embora necessário para a fluidez e a naturalidade do texto-alvo, pode inadvertidamente levar a desvios no sentido original e a alterações no estilo.

A equivalência sintática, por exemplo, é um fenômeno raro devido à não-isomorfia dos sistemas gramaticais e da organização sintática das línguas. Fatores como a ordem livre/fixa das palavras, a presença/ausência de artigos e os diferentes sistemas de tempo verbal contribuem para essa assimetria. Quando o tradutor se vê compelido a alterar a ordem sintática ou a substituir categorias gramaticais por meios lexicais para transmitir uma ideia que não possui um equivalente gramatical direto, a estrutura original do pensamento pode ser comprometida.

  • Exemplo: A tradução de um gerúndio inglês para um substantivo em russo pode alterar a fluidez e a dinamicidade que o gerúndio expressava, tornando a frase mais estática. Se o gerúndio em inglês sugere um processo contínuo («*Studying* hard is rewarding»), a tradução literal para um substantivo («*Изучение* усердно вознаграждается») pode perder essa conotação de processo. Uma melhor tradução seria «Усердное *обучение* вознаграждается» (Estudo diligente é recompensador) ou mesmo uma oração com um verbo: «Если *усердно учиться*, то это принесá frutos» (Se você estudar diligentemente, isso trará frutos).

Além disso, a escolha de diferentes meios lexicais para transmitir uma categoria gramatical pode introduzir conotações que não existiam no original, ou, inversamente, falhar em capturar nuances estilísticas importantes. A sutileza de um artigo que demarca algo específico ou genérico pode ser perdida em russo, ou ser transmitida de forma excessivamente explícita através de um pronome demonstrativo, alterando o fluxo natural do texto.

A distorção estilística é particularmente evidente na tradução de diminutivos. A riqueza emocional dos sufixos diminutivos russos é quase impossível de replicar em inglês sem recorrer a descrições que, embora transmitam o sentido, raramente capturam a mesma concisão e o mesmo matiz emocional. A tentativa de uma tradução literal («little table» para «столик») pode soar infantil ou inadequada, enquanto uma omissão completa do diminutivo pode empobrecer o texto de sua expressividade original.

Riscos de tradução inadequada em textos especializados

Se em textos literários ou informais a distorção estilística pode ser um desvio menor, em textos especializados – científicos, médicos ou técnicos – a tradução inadequada de nuances gramaticais pode ter consequências graves e até catastróficas. Nesses domínios, a precisão e a clareza são imperativas, e qualquer ambiguidade ou erro pode levar a mal-entendidos com implicações sérias.

  1. Defeitos de produção e danos a equipamentos: Em manuais técnicos ou especificações de engenharia, um pequeno erro na tradução de uma instrução verbal ou na interpretação de uma condição gramatical (por exemplo, uma frase no Present Perfect Continuous que descreve um processo em andamento em vez de uma ação pontual) pode levar a montagens incorretas, uso indevido de máquinas ou falhas de software. Isso, por sua vez, pode resultar em defeitos de produção, danos a equipamentos caros e interrupções nas operações. Por exemplo, a tradução incorreta de «the device *has been operating* for hours» (o dispositivo *tem estado a operar* por horas) para «устройство *работало* часами» (o dispositivo *operou* por horas) pode distorcer a compreensão do estado atual do equipamento.
  2. Perdas financeiras e danos à reputação: No setor financeiro ou jurídico, a ambiguidade decorrente de uma tradução gramaticalmente inadequada pode resultar em interpretações errôneas de contratos, acordos ou regulamentos. Isso pode levar a disputas legais, perdas financeiras significativas, multas e, o que é igualmente prejudicial, um sério dano à reputação de empresas ou indivíduos. A tradução de uma condição expressa em um tempo verbal específico que implica uma obrigação contínua versus uma ação concluída é um exemplo claro desse risco.
  3. Riscos para a vida e a saúde: Em textos médicos e farmacêuticos, a precisão é uma questão de vida ou morte. Um erro na tradução de dosagens, instruções de uso de medicamentos, protocolos cirúrgicos ou resultados de pesquisas clínicas, que pode surgir da má interpretação de formas gramaticais, pode ter consequências fatais. Por exemplo, a diferença entre «the patient *should take* the medicine» (o paciente *deve tomar* o medicamento — obrigação) e «the patient *may take* the medicine» (o paciente *pode tomar* o medicamento — permissão) é crucial. Embora não seja estritamente gramatical, a tradução de verbos modais e suas nuances é um desafio comum em tradução médica. De forma mais direta, a confusão entre o aspecto imperfeito e perfeito de um verbo em um protocolo («aplicar o medicamento» vs. «ter aplicado o medicamento») pode levar a erros de medicação.
  4. Desinformação em textos científicos: A distorção de informações em artigos científicos, teses e publicações de pesquisa pode comprometer a integridade do conhecimento. Se os resultados de um experimento, a metodologia utilizada ou as conclusões de um estudo são apresentados de forma imprecisa devido a falhas na tradução gramatical (por exemplo, erros na transmissão de relações de causa e efeito expressas por estruturas participiais ou gerundiais), isso pode levar a desinformação, repetição de erros e retardar o avanço científico.

A total identidade entre os textos original e traduzido é, em princípio, inatingível, dada a singularidade do vocabulário, da estrutura gramatical e das idiossincrasias culturais de cada língua. No entanto, é precisamente o papel do tradutor minimizar essas lacunas. A consciência dos riscos associados à não-equivalência gramatical, e a habilidade de aplicar as transformações de forma criteriosa e informada, são, portanto, competências indispensáveis para garantir a adequação e a confiabilidade de qualquer tradução, especialmente em contextos de alta responsabilidade.

Recomendações Práticas para Tradutores na Superação de Problemas Gramaticais Não-Equivalentes

A arte da tradução, especialmente quando se trata de navegar pelas águas turbulentas da não-equivalência gramatical entre o inglês e o russo, exige mais do que apenas um bom vocabulário e o conhecimento das regras básicas. Ela demanda uma profunda compreensão das nuances culturais e funcionais de cada idioma, um olhar atento ao contexto e a capacidade de empregar transformações de forma estratégica. Este capítulo oferece um conjunto de recomendações práticas, destinadas a equipar tradutores com as ferramentas necessárias para superar esses desafios e produzir traduções adequadas e eficazes.

Princípios gerais: sentido, contexto, normas da língua-alvo

A pedra angular de qualquer tradução bem-sucedida, e particularmente daquela que lida com a não-equivalência gramatical, reside na adesão a três princípios fundamentais:

  1. Foco no sentido, não na palavra por palavra: O erro mais comum e pernicioso é a tentativa de tradução literal. Como V.N. Komissarov enfatiza, a equivalência não é sinônimo de identidade absoluta. Em vez de buscar um «equivalente» direto para cada elemento gramatical, o tradutor deve se concentrar em apreender o *sentido geral* da frase ou do enunciado. Isso significa perguntar: «Qual é a intenção comunicativa do autor? Que informação ou emoção ele deseja transmitir?» Somente após essa compreensão profunda é possível selecionar as ferramentas gramaticais e lexicais mais apropriadas no idioma de chegada. Por exemplo, ao traduzir uma frase inglesa com uma forma verbal complexa, o tradutor russo deve primeiro identificar se a ênfase é no resultado, no processo, na repetição ou em um momento específico no tempo.
  2. Análise contextual aprofundada: O contexto é o rei. Um artigo, um gerúndio ou uma forma verbal em inglês adquirem seu significado pleno apenas dentro da frase, do parágrafo e do texto como um todo. O tradutor deve sempre considerar o cotexto (as palavras e frases circundantes) e o contexto extralinguístico (a situação, a intenção do autor, o público-alvo, o gênero textual). Por exemplo, um artigo indefinido pode ser um mero marcador gramatical em um contexto, mas em outro, pode indicar a introdução de uma nova informação crucial, exigindo uma compensação específica em russo.
  3. Observância das normas da língua-alvo: Uma tradução, por mais fiel que seja ao original, será inadequada se soar artificial ou incorreta no idioma de chegada. É imperativo que o tradutor domine as normas gramaticais, lexicais e estilísticas do russo. As transformações devem ser aplicadas de forma a garantir que o texto resultante seja natural, fluido e gramaticalmente impecável. Isso significa não ter medo de reestruturar frases, mudar a ordem das palavras ou substituir categorias gramaticais, se isso servir para a clareza e a naturalidade. A meta é que o texto traduzido não «pareça» uma tradução, mas um original escrito em russo.

Recomendações específicas para artigos, gerúndios, formas verbais de tempo e diminutivos

Além dos princípios gerais, recomendações mais específicas podem guiar o tradutor na abordagem das categorias gramaticais não-equivalentes:

  1. Tradução de Artigos:
    • Priorize o contexto: Não tente traduzir cada artigo. A maioria pode ser omitida.
    • Identifique a função: Se o artigo indica definitude crucial (algo específico, já mencionado), considere usar pronomes demonstrativos (этот, тот) ou adjetivos (определённый).
    • Altere a ordem das palavras: Se um artigo indefinido introduz uma nova informação (centro semântico), reordene a frase russa para colocar o novo elemento em uma posição de destaque.
    • Considere adição lexical: Em alguns casos, palavras como «один» (um, no sentido de «algum»), «любой» (qualquer) podem ser adicionadas para transmitir nuances de indefinitude ou generalização.
  2. Tradução de Gerúndios:
    • Determine a função sintática: Esta é a chave.
      • Sujeito/Objeto: Traduza frequentemente por substantivos (чтение, курение, решение) ou infinitivos (читать, курить, решить).
      • Circunstância (advérbio): Utilize particípios adverbiais (деепричастия) para ações simultâneas ou antecedentes (закончив, прочитав), ou substantivos com preposições (после чтения, при решении).
      • Orações subordinadas: Empregue conjunções como «как», «чтобы», «если» com formas pessoais do verbo.
    • Evite a tradução literal: Não tente criar um «gerúndio russo»; ele não existe. Use as estruturas que a língua russa oferece.
  3. Tradução de Formas Verbais de Tempo e Aspecto:
    • Foco na semântica da ação: Pergunte: a ação está completa ou em andamento? É um hábito? Tem um resultado presente?
    • Utilize o sistema de aspecto russo: Para as formas perfeitas inglesas (Present Perfect, Past Perfect), muitas vezes um verbo perfeito em russo é apropriado, com a anterioridade ou relevância no presente expressa pelo contexto ou outros marcadores. Para as formas contínuas, um verbo imperfeito pode ser mais adequado.
    • Atente-se aos marcadores de tempo: Palavras como «already», «yet», «since», «for» em inglês são cruciais para selecionar o tempo e aspecto verbal correto em russo.
    • Evite a «gramática fantasma»: Não tente criar em russo as doze ou mais formas verbais do inglês. Use as três conjugações de tempo e a categoria de aspecto russa.
    • Cuidado com as armadilhas comuns: Os falantes de russo frequentemente confundem Present Perfect e Past Simple, ou usam Present Simple para ações em andamento. O tradutor deve estar ciente dessas armadilhas e fazer escolhas que soem naturais para um falante nativo de inglês ao traduzir para o inglês, e vice-versa.
  4. Tradução de Diminutivos:
    • Compreenda a emoção e o contexto: A principal tarefa é capturar o tom (carinho, desdém, ironia).
    • Prefira o descritivo: Use adjetivos como «little», «tiny», «sweet», «dear» ou expressões descritivas.
    • Considere palavras emotivas: Para expressar afeto, palavras como «darling», «sweetheart» podem ser adequadas em certos contextos.
    • Translitere nomes próprios: Mantenha a autenticidade dos nomes próprios diminutivos russos através da transliteração, adicionando notas se a conotação for essencial.
    • Evite o literalismo: Traduções literais como «cup-let» para «чашечка» são quase sempre inadequadas e podem soar ridículas ou ofensivas.
    • Atenção ao público: Para quem é a tradução? Em contextos formais, a ênfase nos diminutivos pode ser minimizada.

Ao seguir estas recomendações, os tradutores podem navegar com maior confiança e eficácia pelas complexidades da não-equivalência gramatical, transformando o desafio em uma oportunidade para aprimorar a arte da comunicação intercultural. A chave é a flexibilidade, a sensibilidade contextual e um profundo respeito pela singularidade de cada idioma.

Conclusão

A jornada através das intrincadas paisagens da não-equivalência gramatical entre o inglês e o russo revela que a tradução é, fundamentalmente, um ato de interpretação e recriação. Longe de ser uma mera transposição de palavras, é um processo dinâmico onde o tradutor atua como um mediador cultural e linguístico, harmonizando as estruturas e nuances de dois mundos verbais distintos.

Este estudo demonstrou que a ausência de equivalentes gramaticais diretos – como os artigos, o gerúndio, as complexas formas verbais de tempo e aspecto do inglês, e os diminutivos culturalmente ricos do russo – constitui uma das tarefas mais exigentes no campo da tradução. No entanto, é precisamente nessas lacunas que o domínio e a arte do tradutor se manifestam plenamente.

A análise aprofundada das abordagens teóricas, em particular o modelo de cinco níveis de equivalência de V.N. Komissarov, forneceu uma estrutura conceitual robusta para entender como diferentes graus de correspondência são alcançados. As transformações de tradução, entendidas como «conversões interlinguísticas do texto» (R.K. Minyar-Beloruchev), são os instrumentos indispensáveis para superar as divergências formais e semânticas, permitindo que o tradutor adapte o texto de partida às idiossincrasias do texto de chegada.

No plano prático, exploramos as estratégias específicas para cada categoria não-equivalente. Vimos como os artigos ingleses são compensados em russo por ordem de palavras, pronomes demonstrativos ou omissão; como o gerúndio, sem análogo direto, é traduzido por substantivos, infinitivos, particípios adverbiais ou orações subordinadas; como as múltiplas formas verbais inglesas são interpretadas através do sistema de três tempos e do aspecto (perfeito/imperfeito) do russo; e como os afetivamente carregados diminutivos russos são transmitidos em inglês por descrições, adjetivos ou transliteração.

Sublinhamos que a não-equivalência gramatical não é um mero academicismo. Seu impacto na adequação da tradução é profundo, com o potencial de distorcer o sentido e o estilo, e, em textos especializados – científicos, médicos, técnicos –, pode levar a consequências críticas, desde falhas de equipamentos e perdas financeiras até riscos para a vida e a saúde humana. A precisão, neste contexto, é uma questão de responsabilidade ética e profissional.

As recomendações práticas formuladas neste trabalho convergem para uma mensagem central: o tradutor deve transcender a literalidade, priorizando o sentido e a intenção comunicativa, analisando rigorosamente o contexto e aderindo inabalavelmente às normas e à naturalidade da língua de chegada. A flexibilidade, a sensibilidade cultural e um profundo conhecimento de ambos os sistemas linguísticos são as bússolas que guiam o tradutor através dos desafios da não-equivalência gramatical.

Em última análise, a superação dos problemas de gramática não-equivalente não é apenas uma questão de técnica, mas de arte. É a capacidade de recriar a mensagem original, mantendo sua essência e seu impacto, de modo que o texto traduzido ressoe com a mesma autenticidade e clareza que o original.

As perspectivas para futuras pesquisas nesta área são vastas. Poder-se-ia aprofundar a análise de outras categorias gramaticais não-equivalentes, explorar o impacto da não-equivalência em gêneros textuais específicos (poesia, humor, linguagem jurídica), ou realizar estudos empíricos detalhados sobre a frequência e a eficácia de diferentes transformações em corpora de tradução. O campo da tradutologia continua a evoluir, e cada investigação sobre as nuances da interlíngua contribui para aprimorar a prática e a teoria desta disciplina essencial.

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